O que o futebol poderia ensinar sobre a análise de dados?

Por Francisco Tramujas

 

Nos últimos anos, o futebol brasileiro tem se transformado em um grande negócio, gerando enormes fortunas e contando com gestões cada vez mais qualificadas. O relativo sucesso na administração de clubes como Palmeiras, Flamengo e Athletico, somado à reestruturação das Sociedades Anônimas de Futebol, salvou equipes que estavam à beira da falência, como Vasco da Gama, Botafogo e Cruzeiro tem sido muito assertivo.

 

No entanto, minha análise não se concentrará na gestão dos clubes com base em dados, mas sim no cargo mais importante, o técnico à beira do gramado, e em quão preparado esse profissional está para transitar da análise subjetiva para uma análise embasada em dados.

 

Para ilustrar esse ponto, gostaria de me concentrar em um técnico e destacar uma declaração de um técnico que conquistou um título em 2023. Dorival Junior levou o São Paulo ao primeiro título da Copa do Brasil de sua história e, após esse feito, associou as lesões de seus jogadores ao jogo em campo de grama sintética:

 

“É uma coincidência (as lesões no Allianz), mas, na minha opinião, é muito desigual jogar em um gramado como esse. Na Holanda, gramados assim são proibidos. Eu acho que eles perceberam isso como algo negativo para proibirem. Mas aqui permitiram, e eu não posso falar nada, apenas é lamentável, porque o próprio São Paulo teve algumas lesões aqui.”

 

No entanto, será que a análise de Dorival Junior faz sentido?

 

Apesar das polêmicas, ao analisarmos que, no Brasil, dos 20 clubes da Série A, apenas 3 estádios possuem grama sintética – Allianz Parque (Palmeiras), Ligga Arena (Athletico-PR) e Nilton Santos (Botafogo).

 

Se aprofundarmos essa análise nos dados, se a visão de Dorival Junior estivesse correta, os 3 clubes com gramado sintético não deveriam liderar em contusões em 2023?

 

Muito pelo contrário, no ranking dos Departamentos Médicos (DMs) de 2023, o Botafogo aparece em 12º, o Athletico em 13º e o Palmeiras em 16º lugar.

 

Analisando o top 10 de elencos de atletas mais contundidos, temos:

 

  1. América-MG – com 56 baixas médicas em 70 jogos.
  2. São Paulo – com 55 baixas médicas em 71 jogos.
  3. Goiás – com 54 baixas médicas em 72 jogos.
  4. Bragantino – com 49 baixas médicas em 62 jogos.
  5. Internacional – com 45 baixas médicas em 67 jogos.
  6. Flamengo – com 42 baixas médicas em 76 jogos.
  7. Santos – com 41 baixas médicas em 62 jogos.
  8. Corinthians – com 39 baixas médicas em 73 jogos.
  9. Fortaleza – com 39 baixas médicas em 78 jogos.
  10. Atlético-MG – com 37 baixas médicas em 66 jogos.

Em síntese, a análise de dados no contexto do futebol revela-se uma ferramenta crucial para desvendar padrões e desafiar percepções subjetivas. A declaração do técnico Dorival Junior sobre as lesões relacionadas ao gramado sintético, embora tenha gerado polêmica, não encontra respaldo nos números.

Ao examinarmos os dados dos departamentos médicos em 2023, observamos que clubes com grama sintética não lideram em contusões, contrariando a suposição inicial.

Isso ressalta a importância de abandonar preconceitos e abraçar uma abordagem mais fundamentada em evidências, especialmente em um ambiente competitivo como o futebol atual.

Os casos apresentados aqui demonstram que a análise de dados não apenas desafia concepções equivocadas, mas também fornece insights valiosos para a tomada de decisões estratégicas.

 

Portanto, que a transição da análise subjetiva para uma baseada em dados é essencial para maximizar o desempenho esportivo. No cenário dinâmico do futebol, onde o sucesso é medido por resultados tangíveis, a incorporação efetiva da análise de dados emerge como um diferencial estratégico, capacitando técnicos e equipes a alcançar um desempenho consistente e sustentável.

Sobre o colunista

Francisco Tramujas

Especialista em Planejamento estratégico com foco nas seis áreas da Gestão (Estratégia, Financeiro, Pessoas, Comercial e Marketing, Processos e Projetos).

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