Giro de Estoque: Como esta Inteligência Transforma Negócios
Por Francisco Tramujas
O varejo mudou. O que antes era sinônimo de segurança – ter estoques para quatro ou cinco meses – hoje representa dinheiro parado, perda de oportunidades e um modelo de gestão ultrapassado. O grande desafio das indústrias, especialmente em segmentos como o de calçados e alimentos, é entender essa mudança e ajustar suas estratégias para ocupar melhor os espaços dentro das lojas, onde os negócios realmente acontecem.
O Perigo de “Entubar” o Canal com Estoque Excessivo
Muitas indústrias ainda operam em um modelo antigo, utilizando sua marca como alavanca para empurrar pedidos excessivos aos lojistas. Isso cria um problema de giro: um estoque projetado para durar quatro ou cinco meses significa que o lojista faz apenas três compras ao ano. O resultado? Distanciamento da indústria em relação ao mercado, perda da leitura de consumo e uma previsibilidade fabril prejudicada.
Os impactos negativos desse modelo:
- Baixa frequência de recompra, prejudicando o fluxo de caixa tanto do lojista quanto da indústria.
- Dificuldade em ajustar o mix de produtos, pois o lojista precisa lidar com sobras (quando se trata de alimentos vencimento destes em gôndolas) e falta de mercadorias populares.
- Menor capacidade de reação ao mercado, dificultando a inserção de novidades e reposicionamento de tendências.
- Perda de vendas por falta de estoque, um problema evitável se o giro fosse mais eficiente.
A Solução: Compras Recorrentes e Giro de Produto
Ao migrar para um modelo de compras mensais ou bimensais, a indústria e o lojista criam um ecossistema mais saudável, dinâmico e lucrativo. Esse conceito, baseado em MRR (Monthly Recurring Revenue – Receita Recorrente Mensal) e ARR (Annual Recurring Revenue – Receita Recorrente Anual), traz previsibilidade ao fluxo de caixa e permite um crescimento sustentável.
Fazendo um simples ajuste na frequência de pedidos, passando de quatro para seis compras ao ano, a indústria pode crescer mais de 30% anualmente. Esse modelo gera um ciclo virtuoso:
- Maior previsibilidade na produção
- Melhor abastecimento das lojas
- Redução de ruptura de estoque (stock out)
- Aumento do volume de vendas sem necessidade de expansão física
- Relacionamento mais próximo entre indústria e canal
Eficiência Logística: O Fator Decisivo
O crescimento orgânico do varejo depende cada vez mais de um sistema logístico eficiente. Um dos maiores cases de sucesso dessa estratégia é o Mercado Livre (MELI). A empresa compreendeu que velocidade de entrega impulsiona o volume de compras. O resultado? O grupo argentino se tornou o maior marketplace do Brasil, superando Magazine Luiza, Amazon e Shopee.
O MELI investiu pesado em infraestrutura logística própria, incluindo seis aviões exclusivos, garantindo entregas rápidas e frequentes. Essa inteligência operacional fez com que seus clientes comprassem mais, impulsionando o crescimento da empresa de forma exponencial.
O Impacto dos Juros Altos no Estoque das Empresas
Com os juros altos no Brasil, será que os empresários estão realmente fazendo a conta para avaliar se vale a pena comprar grandes estoques em troca de grandes descontos na negociação? Além disso, compensa pagar por barracões de estoque e assumir os juros de empréstimos para alavancar essas compras? Eu acredito que não.
O custo financeiro de manter mercadorias paradas pode rapidamente corroer os descontos obtidos na negociação inicial. Além disso, o capital imobilizado no estoque poderia estar sendo usado para outras frentes do negócio, como marketing, expansão ou aprimoramento da experiência do consumidor. Optar por compras recorrentes e um fluxo de abastecimento eficiente é a solução mais vantajosa em um cenário econômico com taxas de juros elevadas.
Varejo moderno
O varejo moderno exige rapidez, eficiência e uma leitura precisa do comportamento de consumo. Empresas que ainda operam no modelo tradicional de empurrar grandes estoques para os lojistas estão perdendo espaço. A chave para crescer de forma sustentável está na recompra recorrente, na previsibilidade de fluxo de caixa e em uma logística eficiente que mantenha as lojas sempre abastecidas.
O futuro pertence às indústrias que entenderem que dinheiro parado em estoque é prejuízo, mas giro de produto é dinheiro no bolso.
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