Por Francisco Tramujas
O governo federal anunciou nesta semana o programa Nova Indústria Brasil. O programa prevê uma alocação significativa de recursos, sendo R$271 bilhões em créditos reembolsáveis, R$21 bilhões em créditos não reembolsáveis destinados a investimentos em agências de fomento com foco tecnologias de ponta e áreas experimentais, além do BNDES contribuindo com R$8 bilhões para o investimento em empresas de ponta.
A orientação do programa para o desenvolvimento sustentável, aumento da produtividade, comércio exterior e modernização tecnológica está alinhada com tendências globais pós-pandemia, onde muitos países têm priorizado iniciativas semelhantes para sua reindustrialização.
Porém o anúncio do programa causou queda imediata na bolsa de valores b3 e aumento do dólar que vinha de quedas expressivas desde 2023.
E por que o anúncio de um programa que visa dar fôlego as indústrias brasileiras, diga se de passagem quem trás empregos de maior renda a base de trabalhadores brasileiros, causou tal frenesi no mercado financeiro?
Será que faz sentido esta queda na bolsa e aumento no dólar em um movimento brasileiro que anda em conjunto com o que fazem Estados Unidos, União Europeia, Japão e China?
A minha preocupação com a reação do mercado é que claramente este movimento foi uma resposta “do mercado” como uma não satisfação ao programa Nova Indústria Brasil. Muito dessa reação do mercado é em parte uma leitura rasa e pobre de uma visão liberal que enxerga a necessidade de um Estado enxuto.
Quem faz desta leitura de Estado enxuto só esquece de revisitar a própria história do Brasil e do mundo. Esquecem de contar a seus pares que em um passado recente no qual o próprio governo brasileiro salvou da quebra dois dos maiores frigoríficos do mundo via BNDES.
Pois é, em 2009 Sadia e Perdigão duas das maiores empresas brasileiras estiveram perto da falência e foi graças a um investimento de mais de R$2 bi via BNDES que o Brasil não só manteve (e salvou milhares de empregos) como ajudou a consolidar uma das maiores empresas de alimentos do mundo, hoje conhecida como BRFoods.
E não é só por aqui que o Estado investe em indústria para expandir o seu próprio mercado ou salvar o próprio mercado, em 2008, os Estados Unidos investiram US$3,8 bi para evitar a quebra da General Motors que naquele momento gerava mais de 2,5 milhões de empregos naquele país.
Ou o próprio Estado brasileiro tem investido durante anos no que é hoje a maior empresa de jatos empresariais do mundo, que é a Embraer. Não fosse tal investimento era impensado imaginar uma companhia brasileira capaz de produzir aeronaves desejadas pelo mundo todo.
E estes são apenas dois dos inúmeros casos que mesmo em estados capitalistas o governo atua para preservar empresas ou expandir negócios, ou você acredita que a China se tornou o país maior produtora de carros elétricos do mundo, e em breve a maior exportadora de carros do mundo, se o investimento de quase duas décadas do Estado chinês neste setor?
Comparando o investimento proposto pelo Brasil com outros países, como os Estados Unidos, União Europeia e Japão, é evidente que o montante destinado pelo Brasil está em sintonia com a escala da economia. Cada país tem suas próprias necessidades, desafios e estratégias de desenvolvimento.
O investimento de US$60 bilhões proposto pelo Brasil pode ser considerado significativo, mas minúsculo se comparado a investimentos feito por Estados Unidos, União Europeia, Japão ou China. Claro que é necessário avaliar também a eficiência na implementação e utilização desses recursos para alcançar os objetivos estabelecidos.
No contexto global, o Brasil, como a 10ª maior economia do mundo, tem o potencial de fortalecer sua posição no cenário internacional por meio de investimentos estratégicos em sua indústria. O sucesso dependerá da execução eficaz do programa, da colaboração entre setor público e privado, e da adaptação contínua às mudanças no ambiente econômico global.
Ao comparar o investimento proposto pelo Brasil com outros países, destaco que o montante de R$300 bilhões (cerca de US$60 bilhões) pode ser considerado significativo para a economia brasileira. No entanto, ao observar as iniciativas de outras nações, como os Estados Unidos, a União Europeia e o Japão, fica evidente a escala diferenciada de investimentos.
O governo dos Estados Unidos, por exemplo, aprovou um pacote de estímulo à indústria no valor de US$1,9 trilhão, dos quais US$280 bilhões (aproximadamente R$1,3 trilhão) são destinados somente à indústria de semicondutores e chips (aqui reflexo do colapso que aconteceu no setor durante a pandemia onde o mundo ficou dependente da China).
A União Europeia, após a pandemia, investiu mais de US$2 trilhões em suas indústrias, e o Japão destinou US$1,5 trilhão para impulsionar seus setores econômicos respectivamente.
Esses números destacam a diferença de escala entre os investimentos propostos pelo Brasil e por esses países. No entanto, é fundamental reconhecer que cada nação tem suas próprias necessidades, desafios e estratégias específicas de desenvolvimento industrial.
O Brasil, como a 10ª maior economia do mundo, busca, por meio dos R$300 bilhões, fortalecer sua indústria e impulsionar a competitividade global.
A eficácia desses investimentos dependerá não apenas do montante alocado, mas também da eficiente execução dos programas, da colaboração entre setores público e privado, além da capacidade de adaptação às mudanças no cenário econômico global.
Agora o que me pergunto é: “A quem serve especuladores e o mercado que não entendem que boa parte do crescimento de dois dígitos do PIB chinês veio do forte investimento daquele estado a duas décadas na indústria?”