Lay Down, Stay Down: uma história de desejo sob a ótica do Deep Purple

Ouvir Deep Purple é uma delícia e se a canção em questão for da MK III, a terceira formação da banda, o negócio fica melhor ainda! Do disco Burn, de 1974, vem Lay Down, Stay Down e fica evidente que a música gira em torno de dois temas recorrentes na música: o desejo e a saudade.

 

Vamos lá: a letra fala de um amor perdido e da vontade de ter algo mais, como uma fome insaciável, como o grande David Coverdale canta com paixão:

– Não me importo se minha senhora se foi, contanto que você me dê exatamente o que eu quero

Estamos entrando em um cenário para uma história de desejo insaciável em que a letra fala sobre a sensação de falta de direção e necessidade de se conseguir uma nova conexão. O personagem já provou do amor no passado, porém faltou alguma coisa:

– Você desperdiçou o amor que eu provei, agora estou ficando cada vez mais faminto.

Cru, direto e honesto. É a descrição da saudade, palavra que praticamente só existe em português, apesar do sentimento ser universal! E tudo isso com o baixista Glenn Hughes intercalando as falas.

Do nada, chegamos no refrão em que Coverdale implora pelo reconhecimento do que passou:

– Deixe-me saber que você sente isso, você sabe que eu realmente preciso disso. Continue pressionando por mais, deite-se, fique no chão.

A letra é desesperadora, saída de quem quer ser amado, compreendido e conseguir um pouco mais de satisfação.  A química vocal entre David Coverdale e Glenn Hughes é espetacular, com vozes harmonizadas entrelaçadas como nunca abnada havia tentado e esse detalhe é único  por adicionar muito mais profundidade e paixão nesta pérola. Se você queria um impacto emocional elevado, aqui está a fórmula.

E a música, então, que trabalho de mestre. Quando os acordes de abertura aparecem, é questão de tempo para a dupla Coverdale e Hughes chama a atenção. Jon Lord no piano é genial, Blackmore faz linhas memoráveis de guitarra e Ian Paice não para de fazer viradas o tempo todo. Caos organizado? Tudo isso com as vozes criam uma experiência sonora notável.

Vamos combinar que o Deep Purple era conhecido por ultrapassar limites, criar energia pura em suas canções nos anos 70 e Lay Down, Stay Down não é exceção.

– Procurando problemas, acho que está certo, quando eu era jovem, fui ensinado a lutar.

Esta parte reflete o conflito de quem foi ensinando a se defender e jamais recuar – acompanhado daquele solo de guitarra pulsante que serve para reforçar a rebeldia, o desejo que nunca se apaga. ainda mais com esse espírito rebelde, permitindo ao ouvinte mergulhar totalmente na vibração energética da música.

Lay Down, Stay Down é uma canção muito admirada pelos fãs pela sua natureza agressiva e  atemporal, um retrato sonoro de uma banda que se reinventou após a implosão da sua MK II, a famosa segunda formação da banda que testemunhou fumaça sobre as águas.

Vale ouvir cada detalhe!

Aroldo Antonio Glomb Junior é Athleticano e jornalista.

Sobre o colunista

Aroldo Glomb

Jornalista formado. Podcaster. Conhecido no meio da música como “Dr. Rock”.

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