O Crescimento das IAs e o Futuro das Redes Sociais: virarão “Terras de Zumbis”?

Por Francisco Tramujas

Nos últimos anos, o avanço das Inteligências Artificiais (IAs) tem acontecido de forma tão rápida que mal conseguimos acompanhar. A cada novo modelo lançado, as habilidades de compreensão, diálogo e até de criação de conteúdo se multiplicam. Consequentemente, não demorará muito para que as redes sociais estejam praticamente infestadas de robôs (se é que já não estão), ao ponto de vermos mais interação entre máquinas do que entre seres humanos. E, nesse ritmo, é bem provável que em breve essas plataformas se tornem quase que “terras de zumbis” — onde milhares de perfis automatizados vagueiam, conversam entre si e influenciam discussões sem que ninguém perceba.

 

A Ameaça dos Bots e a Automação em Massa

É assustador imaginar que diversos estudos já confirmam a presença massiva de bots nas redes sociais. Uma análise do Oxford Internet Institute (2019) mostrou que perfis automatizados foram usados em diferentes campanhas políticas ao redor do mundo para disseminar desinformação e influenciar opiniões. O Knight Foundation (2018) também apontou que uma parte significativa de links relacionados a notícias em grandes plataformas são postados por contas automatizadas. Isso sem falar na pesquisa do Pew Research Center (2018), revelando que cerca de dois terços dos tweets com links de sites populares vinham de bots.

 

A facilidade de criar, programar e manter esses perfis automatizados vem de algoritmos cada vez mais sofisticados, que conseguem “aprender” com o comportamento online das pessoas. Com isso, eles passam a imitar interações humanas com uma precisão impressionante — o que, claro, torna cada vez mais difícil distingui-los de usuários reais.

 

Como Surgem as “Terras de Zumbis”

Escala Industrial: Com investimentos bilionários em pesquisa e desenvolvimento de IA, criar milhares de robôs capazes de interagir ao mesmo tempo não é mais ficção científica. Grandes empresas de marketing, organizações políticas e até criminosos digitais podem se aproveitar dessa tecnologia para espalhar mensagens, moldar tendências e coletar dados.

 

Influência sobre Opiniões: Quando um assunto é discutido por perfis falsos ou automatizados, as pessoas tendem a acreditar que é um tópico de relevância maior do que realmente é. Essa “ilusão de consenso” leva ao aumento de fake news, manipulação de debates e polarização das discussões.

 

Interações entre Bots: Imagine centenas de perfis automatizados que respondem, curtem e compartilham postagens uns dos outros. O resultado? Uma rede social cheia de “zumbis digitais”, conversando e gerando engajamento falso, enquanto os usuários reais se tornam minoria — ou até mesmo acabam sendo influenciados a participar de pautas que nem existem de verdade.

 

Dificuldade de Detecção: Ferramentas de IA conseguem analisar padrões de linguagem, usar gírias locais, simular emoções e até manter conversas de longo prazo. Isso faz com que, na prática, qualquer um de nós possa ser enganado sem perceber.

 

As Consequências de uma Rede Social “Zumbificada”

Credibilidade em Xeque: Se não sabemos mais quem é humano e quem é robô, a credibilidade das informações compartilhadas desmorona. Isso gera desconfiança geral e aumenta a atmosfera de dúvida, que pode ser explorada pelos mais diversos grupos com intenções duvidosas.

 

Bolhas de Informação: Bots avançados podem reforçar bolhas de opinião ao reagirem de forma coordenada para validar certos pontos de vista. Assim, as pessoas são empurradas para um círculo vicioso de opiniões semelhantes, sem espaço para debate real.

 

Economia e Publicidade: Empresas investem pesado em marketing digital e podem ser vítimas (ou coautoras) de esquemas de engajamento falso. Isso distorce estatísticas de alcance e pode levar a decisões equivocadas de investimento em publicidade.

 

O que as Pesquisas Mostram sobre Possíveis Soluções

Vários institutos de pesquisa e grupos acadêmicos se debruçam sobre formas de identificar e conter a invasão de bots nas redes. O Stanford AI Index Report (2021) sugere a criação de algoritmos de detecção mais avançados, capazes de analisar o “histórico comportamental” de um perfil para identificar padrões inumanos. Já a Gartner (2022) aponta para a importância de uma regulamentação mais clara, que exija verificação de identidade em certas plataformas ou pelo menos rotulagem de conteúdo gerado por IA.

 

Pesquisadores da Northeastern University também defendem a educação digital ampla, mostrando às pessoas como reconhecer sinais de manipulação e desinformação. Outro relatório, este do MIT Technology Review, propõe o desenvolvimento de ferramentas de código aberto para que a própria comunidade online seja capaz de fiscalizar e denunciar comportamentos suspeitos.

 

Caminhos Possíveis

Mesmo com todos os sinais de alerta, ainda há maneiras de manter as redes sociais como um ambiente saudável para trocas genuínas. Governos, empresas e a sociedade civil precisam dialogar sobre regulamentação, ética no uso de IA e transparência nos algoritmos de recomendação. Talvez seja inevitável que as IAs estejam cada vez mais presentes, mas isso não significa que precisamos aceitar uma “terra de zumbis” como única realidade possível.

 

As redes sociais foram criadas para aproximar pessoas, mas agora caminham para uma transformação em que perfis automatizados podem dominar boa parte das interações. Se não agirmos — exigindo políticas mais transparentes, investindo em mecanismos de detecção de bots e promovendo a educação digital — corremos o risco de viver em plataformas “zumbificadas”, onde seres humanos perdem a voz e são constantemente manipulados por máquinas. O futuro ainda está em construção, mas ele depende das escolhas que fazemos hoje.

 

Referências e Bases de Estudo para embasar as provocações que trago no artigo acima;

Oxford Internet Institute (2019): www.oii.ox.ac.uk

Knight Foundation (2018): knightfoundation.org

Pew Research Center (2018): www.pewresearch.org

Stanford AI Index Report (2021): aiindex.stanford.edu

Gartner (2022): www.gartner.com

MIT Technology Review: www.technologyreview.com

Northeastern University (pesquisas em IA e ética digital): www.northeastern.edu

 

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Sobre o colunista

Francisco Tramujas

Especialista em Planejamento estratégico com foco nas seis áreas da Gestão (Estratégia, Financeiro, Pessoas, Comercial e Marketing, Processos e Projetos).

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