Acredite, a culpa não é das estrelas

Em tempos bicudos como o que estamos vivendo, vejo muita gente reclamando da crise, dos empregos em falta, dos baixos salários, da falta de oportunidades e clientes, e sim, tudo isso é verdade.

Fomos levados a uma crise, que ainda não tinha vivido. Será?

Outro dia estive em Supermercado popular de Curitiba, em tempos de crise você troca a fila inexistente pela melhor oferta. Chegando lá, encontro um mercado razoavelmente lotado, caixas trabalhando e clientes insatisfeitos com a demora do atendimento e com o tamanho das filas. Andando um pouquinho mais, vejo muitos, e o “muitos” neste caso não é um exagero, funcionários ali, parados, olhando no celular, conversando entre si, falando da vida, enfim, nada que fosse da minha conta, ainda assim, mais intrometido que qualquer outra coisa, puxei papo com um grupinho.

Lá me contaram que:

– o salário é horrível
– que o vale-alimentação é pouco e por isso não fariam (e não faziam mesmo) absolutamente nada fora do que foram contratados, simples assim.

Então, lá estavam eles, “trabalhando” em um domingo à tarde, falando sobre futilidades enquanto clientes falavam mal do local de trabalho daquelas pessoas. Será que têm uma mente tão pequena ou o mercado tem um plano de carreira e RH tão incompetentes que não premiam a atitude?

Enquanto estavam lá, parados, poderiam ajudar a embalar as compras, poderiam carregar sacolas de velhinhas, repor mercadoria, limpar o chão, por que não? Poderiam fazer algo útil da presença deles naquele lugar. Chamariam a atenção de quem se deve e pela lógica falta de profissionais, seriam vistos como pessoas a se promover.

Ah, mas esses aí são os puxa-sacos. Sempre haverão, e sempre houve colegas sem o mesmo espirito que farão tais comentários, mas em um momento qualquer, enquanto você é promovido, eles, demitidos.

O círculo é vicioso e funciona assim:

O funcionário é contratado para X, iguais a ele tem mais 100. Na crise, o número de funcionários X precisa ser diminuído, como X só faz a função de X, é dispensável, não precisa estar ali, será demitido. Viverá de 2 a 6 meses com o seguro desemprego sem maiores preocupações com a vida, após este retiro espiritual, voltará a carga em busca de uma nova colocação X.

Enquanto procura, encontrará muitas portas fechadas, afinal, o mercado não precisa de tantos X assim, e, claro, culpará o governo, o antigo patrão, a educação do Brasil, o SINE, a vida, os colegas que puxaram seu tapete, o supervisor que não largava do seu pé.

Enfim, escolheria uma bunda alvo para expor todo o seu rancor e contar para a sociedade como ele, sendo um X, era vítima de um sistema que penaliza.

Talvez até mesmo culpe o destino ou as estrelas, mas acredite, não, a culpa não é das estrelas.

Sobre o colunista

Ediney Giordani

Jornalista, xoxial mídia, blogueiro, podcasteiro, escrevinhador de livros, pagador de promessas e impostos. Chão de Fábrica na KAKOI Comunicação.

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