Bug do Milênio, o BANT perfeito

Por Francisco Tramujas

No final de 1999, o mundo estava repleto de previsões alarmantes sobre o Bug do Milênio, sugerindo consequências catastróficas para sistemas de computadores quando a data passasse de “99” para “00”. Mesmo que, na realidade, não tenha ocorrido nenhum desastre em 1º de janeiro de 2000, os preparativos para evitar possíveis problemas representaram um dos investimentos em infraestrutura mais caros da história.

 

Embora as cifras exatas permaneçam desconhecidas, especialistas estimam que governos e empresas globalmente gastaram centenas de bilhões de dólares para garantir a continuidade operacional de seus sistemas de computadores durante a transição do milênio. Grandes instituições financeiras, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), exemplificam o alcance desses investimentos. O BID, uma instituição relativamente pequena em comparação com padrões comerciais, gastou US$17 milhões para preparar seus sistemas.

 

Bancos comerciais multinacionais, por sua vez, registraram gastos impressionantes, variando de US$200 milhões a US$600 milhões cada. Mesmo em regiões como América Latina e Caribe, onde os gastos foram mais modestos em comparação com Europa e Estados Unidos, o investimento foi significativo. Estima-se que a região tenha desembolsado pelo menos US$15 bilhões em preparativos para o Bug do Milênio.

 

Uma parte substancial desses recursos foi direcionada a consultores e fabricantes de software especializado, incumbidos da tarefa complexa de identificar e corrigir códigos de data incorretos em programas de computador. Em alguns casos, em vez de corrigir sistemas antigos, muitas organizações optaram por adquirir novos computadores e programas garantidos para resistir à mudança de data, resultando em uma atualização benéfica da infraestrutura.

 

Ricardo Miranda, que foi coordenador das atividades do BID relacionadas ao Bug do Milênio, destaca que o problema será recordado como uma bênção disfarçada. Além de forçar uma modernização na infraestrutura de organizações, o Bug do Milênio levou empresas e governos a reconhecer sua interdependência e a considerar seriamente a prevenção de desastres e os planos de contingência em geral.

 

Miranda ressaltou que a crise destacou a necessidade de planos de contingência mais robustos em áreas críticas, como redes globais de telecomunicações e tráfego aéreo. Apesar dos desafios, o legado positivo inclui um aumento na preparação para lidar com crises graves.

Quais impactos o mundo “previa” com o Bug do Milênio:

 

Setor Financeiro:

Problema: Muitos sistemas financeiros utilizavam datas para calcular juros, vencimentos de contratos e outras operações críticas.

Impacto: Se não corrigidos, esses sistemas poderiam calcular incorretamente os juros ou interpretar erroneamente a data de vencimento de contratos, resultando em perdas financeiras significativas.

Saúde e Serviços Médicos:

Problema: Sistemas de registro de pacientes e agendamento de consultas frequentemente dependiam de datas precisas.

Impacto: Falhas poderiam resultar em erros na administração de medicamentos, agendamento inadequado de cirurgias e dificuldades no rastreamento de históricos médicos.

Transporte e Logística:

Problema: Sistemas de controle de tráfego aéreo, ferroviário e marítimo utilizavam datas para coordenar horários e rotas.

Impacto: Problemas no processamento de datas poderiam levar a atrasos, cancelamentos e até mesmo colisões em casos extremos.

Energia e Utilidades:

Problema: Sistemas de controle para usinas de energia e distribuição de utilidades frequentemente dependiam de carimbos de datas (timestamps) precisos.

Impacto: Falhas nos cálculos de datas poderiam resultar em interrupções no fornecimento de energia e outros serviços públicos.

Governo e Administração Pública:

Problema: Sistemas governamentais, incluindo previdência social e administração tributária, utilizavam datas para processar informações.

Impacto: Erros nos cálculos poderiam resultar em pagamentos incorretos de benefícios, dificuldades na arrecadação de impostos e falhas em serviços governamentais.

Para enfrentar o Bug do Milênio, as organizações em todo o mundo iniciaram esforços de correção e atualização de sistemas. Houve investimentos significativos em projetos de mitigação, incluindo testes extensivos e correções de software. Embora muitos dos cenários catastróficos tenham sido evitados devido a esses esforços, o Bug do Milênio destacou a importância da manutenção adequada de sistemas e da antecipação de possíveis problemas de software.

Bug do milênio, o BANT perfeito

Para muitos executivos o bug do milênio (y2k) foi o que consideraram de BANT perfeito.

Mas afinal o que é BANT, e como esta metodologia ajuda empresa a acelerar o fechamento de negócios:

 

Budget (Orçamento): é um dos primeiros passos para uma negociação de sucesso. O consultor de negócios deve entender se o lead abordado possui recursos financeiros para seguir a negociação.

No caso do bug do milênio, a atualização e correção de sistemas que poderiam ser afetados pelo bug do milênio acabaram criando um orçamento extraordinário em empresas.

 

Authority (Autoridade): É fundamental descobrir que é o decisor na negociação de determinado produto ou serviço.

Na época do risco do bug os decisores erma os líderes de TI e outros tomadores de decisões na organização para garantir apoio e aprovação para as correções necessárias.

 

Need (Necessidade): Saber com clareza qual a dor, quais impactos de não ter o seu serviço ou produto é fundamental para seguir a negociação.

O risco da perda de dados criou a necessidade de empresas no cenário do famoso y2k, avaliar a extensão dos problemas potenciais nos sistemas da empresa e determinar as soluções necessárias para evitar interrupções que o próprio mercado já alarmava.

 

Timeline (Cronograma): Ter a clareza de qual a estimativa de início do relacionamento por parte do cliente é importante para tomar as rédeas da negociação.

A urgência para implementar as correções antes da virada do milênio era o próprio calendário que criava a urgência de acontecer antes do dia 31 de dezembro de 1.999, garantindo que tudo estivesse em ordem para evitar possíveis falhas nos sistemas.

 

Em resumo, a abordagem do BANT ajudou empresas a lidar de forma eficiente e organizada com os desafios do bug do milênio, garantindo que estivessem financeiramente preparadas, com a autoridade correta envolvida, abordando as necessidades críticas e cumprindo um cronograma apertado para a implementação das correções.

Sobre o colunista

Francisco Tramujas

Especialista em Planejamento estratégico com foco nas seis áreas da Gestão (Estratégia, Financeiro, Pessoas, Comercial e Marketing, Processos e Projetos).

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