26 de julho, 2024

O que resta para o disco de vinil hoje em dia?

Você ainda curte discos de vinil? Se você é daqueles que adora colocar um disco de vinil na vitrola e se deliciar com o som que sai dos sulcos, você sabe do que eu estou falando e acredite: você não está sozinho. Mas você sabe como os discos de vinil surgiram e como a música evoluiu desde os gramofones até os streamings online? Tem espaço ainda para este formato? Vem comigo que eu te conto!

Antes de mais nada, vamos voltar no tempo para 1894 quando uma empresa chamada Gramophone Company começou a vender uns discos de 7 polegadas que só tocavam de um lado e rodavam a uns 70 rpm. Depois a indústria musical foi aprimorando os discos fonográficos e criou um padrão para todo mundo seguir.

No começo, os discos eram feitos de goma-laca, mas em 1939, a Columbia Records inventou o vinil usando um tal de cloreto de polivinila e, em 1948, lançou o disco de 12” Long Play (LP). A galera precisava de mais espaço para gravar as trilhas sonoras e veio o LP de 12” 33 1/3 rpm (rotações por minuto) que virou o formato mais usado para os álbuns, e o disco de 7” virou o preferido para os singles.

Em 1948, a empresa alemã Deutsche Grammophon entrava de cabeça no formato disco em vinil que substituiu os discos de goma-laca de 78 rotações por minutos Uma inovação histórica, pode acreditar! Os discos de goma-laca permitiam a gravação de apenas uma música em cada face, enquanto os de vinil, também chamados de Long Play ou LP, eram mais leves e resistentes e reproduziam um número maior de canções com mais qualidade sonora.

Como curiosidade, no Brasil, o disco de vinil foi lançado comercialmente em 1951, mas só começou a suplantar o disco de 78 rotações em 1964, e dominou o mercado até 1996, mas já voltaremos para este assunto…

E chegam as fitas e os CDs
A primeira fita cassete apareceu no começo dos anos 60 e essa foi a primeira mudança radical na maneira como se consumia música na indústria. Afetou o mercado de vinil, pois muitas pessoas gravavam discos de amigos e não compravam os originais, mas o estrago foi minimizado quando as gravadoras começaram a oferecer filas “oficiais” nas lojas. A fita K7 chegava com encarte, uma arte e isso era diferente de uma fita virgem. Já nos anos 80 surgiram os primeiros CDs, mudando novamente o mercado e impactando os discos de vinil.

O que fez as fitas cassete e os CDs ganharem mais espaço do que os discos de vinil? A praticidade foi o ponto forte deles. Eles eram portáteis e permitiam pausar, avançar, voltar, tocar ou parar uma música só apertando um botão. Isso fez com que as vendas de discos de vinil caíssem, e só os fãs e colecionadores continuaram fiéis aos LPs.

Nasce o MP3
O formato surgiu no começo dos anos 90 e levou a música para outro patamar – seguido pelos serviços de streaming online, quando a internet ficou rápida o suficiente nas casas das pessoas. Você podia ouvir várias músicas, criar suas playlists e não ficar preso a um disco só. Por um lado, a pirataria musical aumentou, enquanto, por outro lado, os preços das assinaturas de streaming foram ajustados para caber no bolso da maioria. Mas será que quanto mais, melhor?

A volta do que nunca foi embora As vantagens dos discos de vinil dependem do gosto de cada um. Não estamos falando da estética dos discos de vinil, isso é indiscutível. Estamos falando, sim, das vantagens do som analógico. Sons analógicos são mais precisos do que os sons digitais porque captam os sinais exatos. Imagine o som analógico como uma onda contínua de harmônicos, onde as mudanças de tom são difíceis de perceber. Ouvir um disco de vinil é como entrar no estúdio de gravação e ter a representação sonora mais fiel possível.

A nova geração está ouvindo música de que forma? E aí, como está a indústria musical hoje em dia? Qual é a onda dos discos de vinil e da geração Z? Bem, na era digital, o retorno do vinil pode parecer contraditório. Apesar da facilidade e da acessibilidade dos serviços de streaming, os discos de vinil tiveram um aumento incrível na popularidade na última década. Esse renascimento do som analógico não é só uma moda passageira movida pela nostalgia, mas uma prova do charme duradouro da experiência do vinil.

Os discos de vinil foram uma revolução na forma de ouvir música no século XX que proporcionam uma experiência única, que envolvia todos os sentidos. Era possível sentir o peso do disco, ver a arte da capa, ouvir o som rico e detalhado e até mesmo cheirar o aroma do plástico. Quem comprava um vinil estava se conectando com a música de uma maneira profunda e pessoal.

Mas nem tudo era perfeito. Os discos de vinil eram frágeis, pesados e ocupavam muito espaço. Além disso, eles eram caros e difíceis de produzir. Por isso, quando surgiram novas tecnologias, como as fitas cassete e os CDs, muitas pessoas abandonaram o vinil em busca de mais praticidade, portabilidade e qualidade. O vinil entrou em decadência e quase desapareceu do mercado na década de 1990.

Força do vinil após anos e anos…
O ressurgimento do vinil vem contra todas as expectativas. O vinil voltou com força total no século XXI – ou melhor, ele ganhou mais força, pois nunca deixou de existir.

Segundo a RIAA, The Recording Industry Association of America, as vendas de vinil têm aumentado ano após ano desde 2010, chegando a superar as vendas de CDs nos Estados Unidos em 2020. Isso é impressionante, considerando que vivemos na era do streaming, onde a música está disponível a um clique de distância.

Mas o que explica esse fenômeno?
Existem fatores que contribuem para o ressurgimento do vinil:

1 – O apelo da fisicalidade
Em um mundo cada vez mais digital e virtual, muitas pessoas sentem falta de ter algo concreto e palpável. O vinil oferece isso. É um objeto que você pode tocar, segurar, admirar e colecionar, além de exigir uma atenção especial, desde a escolha do disco, até a colocação na vitrola e o ajuste da agulha. O vinil, afinal de contas, te faz parar e apreciar a música com mais calma e profundidade.

2 – Qualidade de som
O vinil tem um som diferente do digital, muito mais quente, mais orgânico e mais fiel à gravação original. Isso porque o vinil reproduz as ondas sonoras de forma contínua, enquanto o digital as divide em pequenos pedaços. Muitos amantes do vinil preferem esse som mais natural e autêntico, que capta as nuances e as emoções da música.

3 – Nostalgia e colecionabilidade
O vinil também tem um valor sentimental e histórico. Para muitos, ele remete à infância, à adolescência ou a momentos especiais da vida. Traz de volta as lembranças de quando a música era mais valorizada e apreciada. Para outros, ele representa uma forma de se conectar com o passado e com a história da música. Além disso, o vinil é um item colecionável, que pode ter edições raras, cores diferentes e lançamentos exclusivos. Ele é um tesouro para os fãs e os colecionadores.


O impacto do ressurgimento do vinil
O renascimento do vinil faz girar a roda do mercado para vitrolas e outros equipamentos de áudio, que vão desde os modelos mais simples até os mais sofisticados. E tem ainda as lojas de discos independentes e de discos usados – os chamados sebos -, que aumentaram suas vendas.

Um exemplo disso: a Record Store Day, um evento anual para “celebrar a cultura da loja de discos independente”, tornou-se um sucesso mundial. Todos os países têm sua edição.

O ressurgimento do vinil estimulou uma forma diferente de consumir música. Em vez de ouvir músicas aleatórias em playlists digitais, o vinil incentiva a ouvir álbuns inteiros, do começo ao fim. Isso aproxima o ouvinte da visão e da mensagem do artista.

Por outro lado, o ressurgimento do vinil também trouxe alguns desafios, como questões ambientais relacionadas à produção e ao descarte do plástico e o aumento do preço dos discos de vinil. Apesar desses obstáculos, a tendência continua a crescer, sugerindo que o vinil é mais do que uma moda passageira.

E a música digital?
Olha só: as vendas de vinil nos Estados Unidos atingiram o seu pico em 30 anos, com 46,3 milhões de unidades vendidas. Mas isso não significa que a música digital está saindo de moda. Na verdade, há uma tendência crescente de diversificação na forma como consumimos música. Ambos formatos coexistem e trazem aos ouvintes uma escolha entre o apelo tátil e auditivo do vinil e a conveniência e acessibilidade da música digital.

Os serviços de streaming expuseram os ouvintes a uma gama mais ampla de música do que nunca e despertou a possibilidade e o desejo de ter uma mídia física – e o vinil oferece essa oportunidade, com capas de álbuns atraentes e artefatos colecionáveis.

O disco de vinil oferece uma ruptura, uma rebeldia, vá lá, com o estilo de vida da era digital. As pessoas descobriram ser possível desacelerar e saborear a música. O ato de colocar um disco de vinil na vitrola, ajustar a agulha e ouvir a música é uma experiência tátil e sensorial que não pode ser replicada pela música digital.

Aroldo Antonio Glomb Junior é jornalista e Athleticano

Sobre o colunista

Aroldo Glomb

Jornalista formado. Podcaster. Conhecido no meio da música como “Dr. Rock”.

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